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sábado, 23 de fevereiro de 2013

O homem que sabia voar



Jonas acordou de madrugada depois de um sobressalto. Ele acabara de ter um daqueles sonhos em que estava voando. Na verdade ele vinha tendo este sonho recorrente há quase seis meses, mas desta vez algo foi diferente. Desta vez ele sentiu que foi praticamente real. Sim, ele sabia como voar, bastava apenas voar. Bastava apenas tentar. Lançar-se para o alto.

Com a respiração ainda um pouco ofegante, Jonas levanta da cama bastante suado e senta-se na poltrona que fica de frente para a janela de seu quarto. Ele está completamente nú. Prefere dormir assim por causa do calor que faz à noite no seu apartamento. Aquela noite não foi diferente, aliás, aquela noite foi especialmente quente. Alguma coisa de especial havia naquela noite, mas ele não sabia o que era, por isso ficou sentado ali, olhando para a janela, encarando o breu. Pensando.

Horas se passaram, mas para ele não fazia a menor diferença. Ele estava completamente absorto em seus devaneios, lembrando da maravilhosa experiência que tivera ao sentir-se voando. Seu corpo livre no espaço, sem nada para lhe deter. Queria aquela sensação de novo, queria muito. Aquela noite foi especial, sim. Naquela noite ele tinha certeza que aprendera a voar. Ele passou a acreditar profundamente que ainda ninguém tinha conseguido esta proeza pelo simples fato de que não acreditavam o suficiente para conseguir, mas ele não. Estava convicto! A fé - pensou - é a chave para tudo na vida. Ela torna tudo possível.

Jonas levanta da poltrona onde por tanto tempo ele pensou e continua a encarar a janela. Seu coração começa a acelerar, sua respiração fica cada vez mais ofegante. Uma gota de suor lhe escorre pela fronte. Ele levanta o pé direito e dá o primeiro passo. Logo ele está dando o segundo passo, o terceiro, o quarto e em poucos segundos, Jonas está correndo em direção à janela. Sua mulher, que dormia na cama ao seu lado, abre os olhos e se apavora com o que vê. Jonas, em sua corrida decidida, inclina o corpo para frente afim de passar pela janela e sem pensar dá o impulso para levantar vôo. Sua esposa tenta gritar, mas seu grito é abafado pelo terror da visão que está tendo, vendo seu marido com quem viveu tantos anos atirar-se pela janela desta maneira inexplicável.

Jonas fecha os olhos quando atravessa a janela e alcança o espaço vazio do outro lado e tão covicto estava de que sabia voar que ele não tem sensação de queda. Ele não sente vertigem. Ele não sente nada. Então abre os olhos e constata que sim, ele está voando! Da mesma forma como no sonho, seu corpo nú está completamente livre no espaço. Ele não olha para trás, mas para cima e procura focar seu pensamento apenas para subir. Ele inclina a cabeça para cima, pois é assim que ele aprendeu a controlar a direção do vôo, e começa a subir rapidamente até alcançar as nuvens. Seu vôo é extremamente suave. Ele consegue ver a cidade bem pequena lá embaixo. Inclina a cabeça para a direita, mudando a direção do vôo, e consegue ver o estádio. Um pouco mais adiante, ele pode ver o aeroporto. Tem até um avião decolando agora. Ele passa por cima dele e segue em diração ao mar. A visão que ele tem lhe deixa em êxtase. O brilho do Sol refletido na água é de uma beleza indescritível. Jonas está grato por poder experimentar aquilo, por poder voar de forma tão majestosa e resolve voltar prá casa para mostrar à esposa o que ele acabou de aprender.

Jonas inclina a cabeça para baixo e começa a descer, perdendo altitude, pouco depois inclina a cabeça para a esquerda dando meia volta em direção ao seu edifício. Lá está a cidade com seus carros e seus pedestres. Todos parecem ter muita pressa, mas não ele. Ele sente uma paz incrível dentro de si. Ele sente uma calma como nunca sentira antes na vida. Ele estava em paz.

Jonas pode ver ao longe a silhueta de seu edifício e começa a voar direto em sua direção. Ao se aproximar mais um pouco ele percebe que sua esposa está na janela. Ele grita por seu nome, mas estranhamente ela não olha para ele. Ele direciona seu olhar para baixo e percebe que na entrada do edifício está formada uma aglomeração de pessoas. Ele não entende o que está acontecendo e inclina sua cabeça para baixo para se aproximar do chão. Ele está completamente nú, mas se puder pairar sobre suas cabeças talvez não seja notado. Ele se aproxima da multidão e conforme previu, ninguém nota a presença dele a pairar sobre a cabeça dos transeuntes e dos curiosos. Jonas volta sua atenção para o centro da aglomeração e percebe que ali no meio há uma pessoa deitada. Ele sente seu sangue congelar quando se dá conta.

Ali, no meio da multidão, jaz um corpo completamente nú, coberto de sangue.

Ali, no meio da multidão, jaz um corpo. O corpo dele mesmo. O corpo de Jonas.

Jonas sabia voar. Ele sabia.

Mas não podia mais voltar.

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