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terça-feira, 30 de junho de 2015

Inimigo:Eu [Parte 5]


- Daniel! Daniel! - diz a voz em seu ouvido - Acorda, porra! Tá fazendo o que aí?
Ele abre os olhos vagarosamente e toma um susto.
- Você?!? É você mesmo?
- Claro que sou eu, caralho - diz Rafael rindo e dando um tapa no teto do carro.
O sol está brilhando forte e lhe ofusca um pouco a visão. Ele olha ao redor e percebe que dormiu no carro de Rafael, num lugar ermo. A rua está vazia e ele nunca tinha visto aquele lugar. Parece ser um lugar bem distante. - Acho que eu dirigi a noite toda e acabei parando aqui para dormir - diz ele baixinho, quase que como para si mesmo.
- O que você disse? - pergunta Rafael se abaixando e enfiando a cabeça pela janela do motorista.
- Nada - responde Daniel passando a mão na testa, enxugando o suor que agora lhe escorre pela fronte. - O que houve?
- Preciso que venha comigo. Eu tenho que te mostrar um negócio - diz ele já se afastando do carro.
- Peraí, porra! Eu já tô indo! - diz abrindo a porta do carro. Sua cabeça ainda está meio zonza e os acontecimentos do dia anterior estão meio borrados em sua lembrança.
- Vambora!! - grita Rafael gesticulando para ele indicando pressa.
Daniel acelera o passo para acompanhar o amigo que segue em sua frente sem olhar para trás.
O lugar onde eles estão parece ser um subúrbio industrial. Existem galpões por todos os lados. Eles caminham por uma calçada suja ao lado de uma parede de tijolos marrons. Chegando próximo da esquina Rafael subitamente para de caminhar e se mantêm de costas.
- O que foi? - diz Daniel colocando a mão no ombro de seu amigo, que se vira e olha direto nos olhos dele. Sua aparência agora é diferente. Está completamente pálido, com olheiras profundas ao redor dos olhos e há um buraco no meio de sua testa. Daniel fica paralisado com o susto que acaba de tomar. Sem dizer nada, Rafael se vira para frente e dobra a esquina.
- Espere! - grita Daniel de sobressalto e dobra a esquina também para seguir seu amigo. Mas não há ninguém lá. Ele ainda chega a dar mais alguns passos em frente como se não estivesse acreditando no que acabou de acontecer. Talvez, de alguma forma mágica, seu amigo fosse novamente se materializar em sua frente. - Estou enlouquecendo. - pensa enquanto é invadido por uma vontade louca de deixar o lugar e volta correndo para onde o carro está estacionado.
Assim que abre a porta do motorista ele pode ver sobre o banco do carona a pistola de seu amigo e então se dá conta de que, sim, deve estar enlouquecendo.

***
- Wilton, recebemos uma denúncia de um corpo que foi encontrado num beco da rua Isaac Newton.
- Já mandaram alguém prá lá? - diz ele olhando para a mulher bonita em sua frente por cima do óculos.
- Tem uma viatura indo para o local, mas você precisa ir lá, Rafael não apareceu ainda e não atende o celular. - disse ela olhando para o celular em sua mão.
- E onde está Daniel? - pergunta levantando a sobrancelha esquerda.
- Também não sei. - responde ela dando de ombros.
- Merda, o dia começou cedo hoje. - disse ele limpando a boca dos farelos da rosquinha que comia. - Posso ao menos terminar de comer? - a mulher não estava mais na sala.

No local indicado estava a viatura parada na entrada do beco. Um policial estava recostado no capô do carro, enquanto o outro acabava de passar a fita de sinalização para impedir a entrada de pessoas estranhas.
- Já identificaram o falecido? - pergunta Wilton para o policial da viatura.
- Não fizemos nada. Estávamos apenas aguardando vocês chegarem. A área está isolada. - disse ele apontando para o beco.
- Obrigado - disse dando um leve tapa no ombro do policial.
Ele reconheceu o corpo de Rafael quase de imediato e não acreditou no que estava vendo. Não havia sinais de luta nos arredores, mas algumas marcas de pneu, como se alguém tivesse saído dali com bastante pressa. Também havia uma cápsula da bala que havia sido disparada.
Wilton colocou sua luva e suspendeu a cabeça de Rafael. Havia um buraco de saída, então a bala tinha que estar por ali em algum lugar.
- Meu Deus! É o Rafael! - disse a voz por trás dele. Era Renata. Ela fotografava as cenas de crime.
- Espere, não entre aqui ainda. Não consigo achar a bala. - disse ele estendendo mão para que ela parasse.
Pela posição que o corpo estava deitado e pela posição do furo na testa, ele deduziu a posição na qual Rafael estava quando levou o tiro. Mentalmente ele calculou a altura e traçou uma linha reta imaginária entre a área onde ele acreditava que o atirador estava e o furo na testa. Depois estendeu a linha até a parede atrás de onde o corpo estava. - Bingo!!! - gritou ele quando encontrou a bala encrustada entre os tijolos.
- Como você sabia que a bala estaria aí? E se alguém tivesse arrastado o corpo? - perguntou Renata.
- Não vi nenhum sinal de que ele foi arrastado. O posição do atirador, eu deduzi pelas pegadas no chão. As marcas de pneu indicam que havia um carro aqui. Não haveria como o atirador se distanciar muito. O que eu não consigo entender é como ele veio parar aqui. E por não haver luta, suponho que ele conheça a pessoa que o matou. Talvez eles tenham discutido.
- Onde esta a arma dele? - perguntou ela apontando para o coldre vazio.
- Parece que ele foi morto pela própria arma. - disse ele intrigado - Venha. Fotografe tudo o que puder. Vou mandar recolher o corpo em seguida. - diz ele voltando para o carro.
- Farei isso o mais rápido possível, acho que vai chover.

Assim que bate a porta do carro, uma forte chuva começa a cair. Os policiais correm para levar um guarda-chuva e um plástico preto para cobrir o corpo até a chegada do rabecão. Wilton liga o carro e fica tentando imaginar o que fazer em seguida, quando vê no final da rua um posto de gasolina. - Devem ter câmeras por lá - pensa ele.

- Quero falar com o gerente - diz ele já mostrando o distintivo para o frentista.
- Pois não! - diz o homem de camisa azul aproximando-se deles.
- Preciso da filmagem da noite de ontem desta câmera aqui. - diz, apontando para a câmera da frente que está virada para a rua.
- Você não precisa de um mandato para isso? - pergunta o homem.
- Você realmente quer fazer isso, Ismael? - pergunta Wilton, olhando no crachá do homem. - Meu colega foi morto naquele beco logo ali e eu estou tentando descobrir qualquer pista que me leve ao assassino. Eu preciso que me ajude aqui.
O homem suspira e direciona o olhar dele para o chão, como se estivesse lamentando pelo que tinha acabado de ouvir. - Está bem. - diz ele. - Vou fazer uma cópia e te entrego.

De volta à central, Wilton vai até a sala de vídeo e começa a assistir a fita que lhe foi entregue. O legista lhe informou que a chuva atrapalhou um pouco baixando a temperatura do corpo, mas o crime deveria ter acontecido entre as 2:00 e 3:00 da manhã. Ele resolve adiantar para este horário. Ás 2:45 ele vê um carro parecido com o do detetive passar em velocidade, mas não é possível ver quem está ao volante. Porém agora ele sabe que pegaram o carro dele na fuga. Subitamente alguém bate à porta.
- Wilton, um cara veio aqui e disse que viu o que aconteceu ontem de noite. Ele mora no prédio em frente e gravou essas cenas aqui com o celular dele. - disse Bárbara lhe entregando um cartão de memória. Ele rapidamente coloca o cartão e memória no computador e começa a assistir ao vídeo. Nele, não dá pra ver quem está com Rafael, pois o lugar está mal iluminado, mas ao sair do beco, o poste ilumina o motorista: Daniel. Wilton toma um susto e corre para abrir a porta.
- Bárbara! Venha comigo agora! Vamos para a casa de Daniel! - grita ele.
- O que houve? - pergunta ela assustada.
- Ele apareceu no vídeo do cara. Por isso ele não veio hoje!

Em menos de meia hora eles já estavam lá, na frente do prédio. Outras duas viaturas estavam com eles, para cercar a rua caso ele estivesse em casa. Wilton não se dá ao trabalho de bater na porta, ele dá dois tiros na fechadura e depois um chute. A porta abre com facilidade. Não tem ninguém em casa.

- Espere!! Não toque nisso!! - diz Wilton levantando a mão para o policial que abriu a porta do congelador. - Renata, traga a câmera aqui e fotografe estes dedos. - O policial toma um pequeno susto e se afasta para dar espaço para a moça que trás a câmera pendurada ao pescoço. Ela posiciona uma placa amarela com o número 1 ao lado dos dedos e faz a foto, recolhendo o material em seguida e colocando dentro de um saco plástico.
- Senhor! Acho que você precisa ver isso aqui! - Grita um policial de dentro do quarto.
Assim que entra no quarto, Wilton sente um frio subir-lhe pela espinha. A cama foi arrastada de seu lugar e embaixo dela, no chão, está desenhado um pentagrama vermelho com uma substância que parece ser sangue. Ao centro havia algo parecendo um coração humano, coberto de larvas de moscas.

[Continua...]