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domingo, 6 de setembro de 2015

Occultus - Parte 2



- 2 -

25 anos antes...

- Anda, Kevin, me dá a droga da lanterna! - diz Joseph com uma expressão de raiva nos olhos estendendo a mão impaciente enquanto segura a porta do porão com a outra mão.

- Calma! - responde Kevin girando a lanterna para entregar ao amigo.

- Tem tanto tempo que essa casa está abandonada que não me arriscaria em acender nada por aqui. Não quero morrer queimado - diz enquanto começa a descer as escadas. Cada degrau que pisam range alto como se fosse se quebrar.

- Queimado? Como acender uma luz pode te matar? - pergunta Kevin intrigado.

- E se tiver um curto circuito e a casa pegar fogo? - diz sem olhar para trás.

- Deixe de ser idiota. Mortos não usam luz. A energia daqui foi cortada há mais de cem anos, desde que a moradora morreu.

- Eu sei da história - responde Joseph num tom sarcástico - Dizem que ela era maluca, que os malignos viviam com ela, blá, blá, blá. Por isso ninguém tem coragem nem pra morar aqui, nem pra derrubar o lugar. A casa simplesmente ficou aqui, abandonada.

- Então que merda a gente tá fazendo aqui!? Eu devia ter trazido mais uma lanterna.

- Deixa de ser medroso! - Joseph olha para o amigo com uma certa desaprovação no olhar - Estamos aqui porque não acredito nestas besteiras e porque adoro uma aventura. Você não?

- Tá bom, não me olhe assim. Vamos terminar logo e sair daqui - responde Kevin gesticulando com a mão indicando pressa.

- Olha só! - diz apontando para um objeto grande coberto por um lençol - O que será isso aqui? - e puxa o lençol. Um belo telescópio dourado deixa os dois vislumbrados. A luz da lanterna reflete em sua superfície que, apesar dos anos, ainda permanece brilhante e polida.

- O que é isso? - pergunta Kevin.

- É um telescópio, idiota. Parece que nunca viu um!

- Nunca vi assim, de verdade, nem tão grande. Vamos levar ele?

- Agora não. Não podemos deixar ninguém ver a gente sair daqui com isso debaixo do braço. Além do mais, isso deve ser muito pesado. Vamos precisar de ajuda pra carregar.

- O que vamos fazer?

- Venha, me ajude a colocar ele perto daquela janelinha. Poderemos ver alguma coisa, talvez.

Ao fazer a volta no telescópio, Joseph chuta alguma coisa no chão. Apontando a lanterna ele percebe que chutou um livro. Um livro muito grande fechado com uma espécie de fechadura.

- Um livro! - diz Kevin com ar de surpresa.

- E dos grandes! Isso eu vou levar - diz assoprando a poeira em sua capa.

- Acho melhor a gente ir embora, Joseph. Já vai escurecer e minha mãe vai me procurar.

- Tudo bem. Me ajude a cobrir o telescópio. A gente volta depois.

Eles cobrem o telescópio e voltam pra casa.

Joseph entra em casa com muito cuidado para que ninguém veja o livro que ele carrega. Sabia que se fosse visto, um interrogatório de perguntas intermináveis teria início e no final das contas, ao descobrir de onde aquilo tinha vindo, seria obrigado a jogar fora. Não. Ele não queria ser visto. Definitivamente não.

Apesar de tomar todo cuidado na hora de abrir a porta, a mãe ouve o barulho e grita de dentro da cozinha:

- Joseph? É você meu filho?

- Sim, mãe. Sou eu - diz ele acelerando o passo em direção às escadas.

- Vá lavar as mãos e desça pra jantar. Já estou botando a mesa!

- Tá bom! - grita ele já no final do lance de escada. Rapidamente ele entra no quarto, tranca a porta atrás de si, joga o livro sobre a escrivaninha que tem ao lado de sua cama e acende a luminária.

O livro tem uma capa grossa e tem um peso considerável. Não havia nada escrito na capa nem nas laterais, ou pelo menos parecia não haver, porém consegue ver um certo relevo ao olhar ele inclinado próximo da luz. Ele resolve pegar uma camiseta suja no chão e molha ela na pia do banheiro. Ao passar a camiseta sobre o livro, um desenho apareceu. O desenho era de uma estrela grande no meio, rodeada de cinco círculos concêntricos. Em cada círculo havia uma bola numa posição distinta, exceto no terceiro círculo, que haviam duas bolas. Uma de cada lado.

- Que estranho - diz ele baixinho para si mesmo. Alguém bate à porta, é sua mãe - Já vou! - disse enquanto levantava. Lavou as mãos no banheiro e desceu para jantar.

No dia seguinte, na escola, Joseph encontra novamente Kevin no intervalo.

- Cadê o livro? Você trouxe ele? - pergunta dando-lhe um leve tapa no ombro.

- Não poderia trazer aquele trambolho pra cá. Ele está escondido lá em casa.

Uma menina se aproxima dos dois.

- Joseph! Como você teve coragem de ir na casa da bruxa sem me chamar! - pergunta ela com uma expressão de raiva.

- Eu não fui na casa da bruxa. Quem te disse isso, Alice? - responde ele demonstrando surpresa.

- Ah, não foi? - diz ela olhando nos olhos de Kevin. Joseph percebe isso e dá um tapa na cabeça dele.

- Quem mandou você contar, seu cabeçudo! Quanto menos gente souber disso, melhor!

- Desculpa! - responde Kevin - Mas Alice pode ajudar a gente!

- Ajudar como?

- Eu sei que a tal da bruxa não foi bruxa coisa nenhuma. Ela foi uma astrônoma - interrompe ela - Acredito que o livro que você achou pode ter as descobertas que ela fez.

- E como você sabe disso? - pergunta Joseph suspendendo uma sobrancelha.

- Meu tio me contou a história dela. Ele não acredita nessas superstições bestas.

- Seu tio? Ele por acaso é astrônomo?

- Não. Ele não é astrônomo, mas ele estuda muito. Ele me contou que ela publicou um texto que não agradou algumas pessoas na época e por isso ela acabou se isolando e morrendo sozinha na casa. Não existe esse negócio de bruxaria, mas muita gente ainda acredita. Por isso ninguém nunca se deu ao trabalho de investigar a casa dela depois que ela morreu.

- É. Eu sei. Minha mãe acredita nesses negócios. Eu escondi o livro lá em casa. Não consigo abrir porque ele tem uma espécie de fechadura.

- Me mostre o livro que eu te ajudo - diz Alice arrumando o cabelo.

- Ajudar?

- Sim. Eu posso abrir a fechadura.

- E posso saber como você sabe fazer isso?

- Claro! Meu tio me ensinou!

Kevin e Joseph se olham incrédulos.

Em casa, depois de almoçar, Joseph se tranca no quarto para analisar o livro. Ele o pega sobre o guarda-roupa e coloca sobre a escrivaninha. Alguém bate à porta e ele levanta para abrir.

- Você conseguiu abrir o livro?

- Fala baixo, Alice! Que merda! - diz ele colocando a cabeça para fora do quarto procurando ver se tinha alguém por lá. Não tinha.

- Nossa. Ele é bem maior do que eu pensava - diz ela analisando a fechadura.

- Imaginava? Como assim?

- Eu pensei que era do tamanho de um diário, ou coisa assim - diz ela sorrindo suspendendo o livro com as duas mãos - É bem pesado! Como você trouxe isso? Debaixo da camisa?

- Não importa. Você consegue abrir a fechadura, Alice, ou vou ter que cortar essa trava?

- Grosso - diz ela franzindo a testa - Me dá um clip aí - pede ela estendendo a mão.

- De que banda? Hahahaha! - diz tentando ser engraçado pra melhorar o clima.

- Idiota. Me dá um clip de papel, um arame! - diz ela com uma certa raiva balançado a mão estendida.

- Tá bom, tá bom! Toma.

Ela desdobra o clip, dobra novamente ao meio e dobra a ponta fazendo uma espécie de chave de um dente só. Insere essa "chave" no buraco e faz alguns movimentos circulares.

- Vai demorar?

- Shhhhh!!! - protesta ela - Eu tenho que ouvir o click.

- Que click? - pergunta Joseph.

Imediatamente ouve-se um click e a trava abre.

- Este click! - ela sorri enquanto abre o livro.

O livro é uma espécie de diário da Laurel Wharton. Ricamente ilustrado com gráficos e desenhos, além de texto e muitas fórmulas matemáticas. Os dois ficam maravilhados com as coisas que estão ali, mas infelizmente não conseguem entender muita coisa, exceto as partes onde a explicação é literal.

- Veja - diz ele apontando - Um desenho igual a da capa. Porque tem duas bolas neste círculo?

- Isso daí são os planetas de nosso sistema seu bobo.

- Eu sei que são os planetas, mas aqui tem seis bolas.

- Peraí. Esse desenho está mostrando que tem um outro planeta atrás do Sol? - diz ela franzindo a testa.

- Como assim? O que ela diz aí sobre isso?

- Não sei. Vou ter que ler tudo pra saber. Me empresta o livro?

- Tá maluca? Não posso deixar você sair daqui com isso!

- Então vou pegar minha câmera. Tiro umas fotos desse material pra estudar em casa.

Alice levanta e sai quase correndo pela porta para ir buscar a câmera. Joseph olha pela janela e vê sua amiga sair em disparada pela porta de sua casa. Alguém bate na porta do quarto, ele levanta para abrir.

- Oi, Kevin - diz Joseph virando de costas para se sentar novamente.

- Aquele foguete que saiu daqui era Alice? - disse ele apontando para a porta.

- Era sim. Ela disse que ia buscar a câmera.

- Uau, vocês conseguiram abrir o livro? - diz ele se aproximando.

- Conseguimos sim, mas não dá pra entender muita coisa do que está escrito. Mas tem um desenho aqui - diz folheando o livro até a página que tem o desenho do sistema planetário - que mostra uma coisa interessante - e aponta para o desenho.

- Porque tem duas bolas neste círculo, mas uma só em todos os outros? - pergunta coçando a cabeça.

- Nós nos perguntamos a mesma coisa. Aparentemente esta bola aqui somos nós e esta outra bola aqui é um outro planeta atrás do Sol.

- Atrás do Sol? Você é maluco? De onde você tirou essa idéia?

- Alice.

- Claro. Só podia ser idéia dela - diz Kevin balançando a cabeça.

- Mas eu acho que ela está certa. É o que faria sentido.

- Não, Joseph. Essa bola daí pode ser uma coisa que ela achava que estava lá. Não significa que tem alguma coisa lá.

- Bem. Isso também faz sentido. Mas Alice disse que a mulher era astrônoma. Ela não ia desenhar isso daqui se não soubesse do que se tratava.

- Tá, tá, tudo bem. Mesmo assim acho meio louca essa história. Todos os planetas de nosso sistema já foram descobertos, a gente aprendeu isso na escola.

- As grandes descobertas foram feitas por aqueles que não sabiam que tudo já havia sido descoberto - disse Alice de pé atrás dos dois.

- Já? - Os dois se olharam perplexos - Como você foi em casa e voltou tão rápido?

- Eu tinha esquecido a câmera no carro de meu tio e por acaso ele estava passando aqui na frente quando saí de sua casa. Você não viu a pickup dele?

- Humm... Então seu tio tem uma pickup? - perguntou Joseph suspendendo uma sobrancelha e alisando o próprio queixo.

- Tem sim, porque? - questionou Alice pondo as duas mãos na cintura.

- Você está disposta a participar de uma aventura? A maior aventura de sua vida!

- Que tipo de pergunta é essa? Você sabe que eu amo aventuras! - responde ela.

- Então feche a porta do quarto, puxe uma cadeira e vamos conversar.

[Continua...]