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quarta-feira, 5 de março de 2014

Corre, porra!


Está tudo escuro. Escuro e silencioso. Um ponto brilhante pode ser visto bem longe, um ponto que está aumentando de tamanho e junto com ele um barulho estranho. Parece que tem alguém gritando - Levanta!! Levanta!!

Lucas abre os olhos e vê diante de si sua melhor amiga, suja de barro, puxando-o pelo braço tentando fazê-lo levantar. Alguma coisa explode perto deles fazendo Ângela cair ao chão tossir um pouco com a poeira que levanta. - Corre, porra!!! - diz ela levantando-se e voltando a puxar Lucas pelo braço. Desta vez, já completamente desperto ele levanta-se rapidamente e os dois seguem correndo, com dois homens em seu encalço.

A construção que estavam usando como esconderijo, uma casa de dois andares abandonada, desaba atrás deles fazendo um barulho ensurdecedor. À frente deles, a visão de uma área completamente aberta os faz sentir um pouco de terror. Sem proteção, logo eles seriam alvo daqueles que os perseguem. Barulhos de tiros são ouvidos atrás de si. Ângela consegue até ouvir as balas passar zunindo por seus ouvidos e por isso corre o mais rápido possível.

- Rápido, vamos entrar naquele tubo! - diz Ângela apontando para uma vala há cerca de 100 metros com um tubo de grande diâmetro aparente.

Os dois pulam na vala e rapidamente adentram no tubo. O tubo é grande o suficiente para que os dois entrem meio abaixados. Apesar do chão estar completamente seco, parece que aquela tubulação servia como parte de um sistema de esgoto. Eles seguem por cerca de 500 metros tubulação adentro e à medida que avançam o ambiente fica cada vez mais escuro. Os dois homens seguem em seu encalço, mas agora eles não atiram mais, mas seguem em silêncio, o que preocupa Lucas e Ângela pois agora por causa do escuro eles não tem mais noção da distância que os separa de seus perseguidores.

Um pouco mais adiante o tubo onde estão fica subitamente maior e eles acabam em uma galeria muito grande onde podem se ver vários outros tubos.

- Sim, acho que isto é ou era um sistema de esgotos - diz Lucas acendendo a lanterna de seu celular e iluminando as paredes ao redor.
- Vamos, temos de seguir por um destes tubos, assim vai ficar mais difícil aqueles dois nos encontrar - diz Ângela balançando a mão indicando para Lucas seguir em frente.

Eles resolvem pegar o terceiro tubo da esquerda. Ângela olha para trás, mas não consegue ver os dois homens. Continuaram correndo. Após algum tempo eles notaram que o chão começava a apresentar uma umidade cada vez maior e um cheiro muito forte de podre. O cheiro fica cada vez mais forte beirando o insuportável, mas eles não podem voltar atrás.

- Ângela! Olha isso! - diz Lucas apontando para a parede à sua direita, onde pode-se ver uma porta de ferro.
- Não tem jeito - diz Ângela -  Temos que passar por esta porta. Se continuarmos por aqui vamos acabar morrendo com este mal cheiro.

Lucas empurra a porta e com um pouco de dificuldade ela se abre, revelando não uma passagem, mas uma sala. A sala não é muito grande. Dentro dela há alguns materiais de limpeza, uns panos, mas tudo extremamente velho e certamente imprestável. Tudo está muito sujo. Ângela testa o interruptor na parede e incrivelmente uma luz se acende no meio da sala.

-Você está louca? Apague isso!! - diz Lucas indignado. - Quer que eles nos achem?

Lucas encontra uma barra de ferro e a atravessa na porta para impedir que ela abra novamente. - Pronto, agora estamos seguros - diz.

Ângela senta-se no chão completamente exausta e passa a desdobrar um papel que tirou do bolso da calça. - Aqui! - diz ela apontando para o papel - Ilumine aqui, por favor. - Lucas aponta sua lanterna para o papel.

- Não sei onde você estava com a cabeça quando resolveu pegar esta porcaria. - diz Lucas balançando a cabeça negativamente.
- Meu querido, isto daqui é uma prova de que Glocke foi real! - responde Ângela.
- Como assim? O que é esta tal Glocke? - pergunta Lucas sentando-se próximo de Ângela e passando a olhar o papel com mais cuidado.
- Você bem sabe que os nazistas adoravam fazer experimentos de natureza muitas vezes bizarra e contraditória - diz ela. - Além daquelas histórias de transplante de cabeça entre seres vivos, existe uma história também sobre uma tal máquina do tempo nazista.
- Máquina do tempo? - diz Lucas franzindo a testa e levantando a sobrancelha.
- Sim - responde ela - Uma máquina do tempo.
- Mas isso não é possível! Não existe uma forma de fazer a viagem no tempo possível por questões lógicas.
- Calma, Lucas. Eu vou explicar. - diz Ângela pondo a mão no ombro de Lucas enquanto dá um sorriso e continua - Durante Segunda Guerra, os nazistas estavam aparentemente procurando por um tipo de arma extremamente letal. Alguns especialistas afirmam que certos textos nos sânscritos antigos indicam que o povo daquele tempo possuíam armas que se pareciam com nossas armas nucleares...
- Mas o que isso tem a ver com máquina do tempo? - interrompe Lucas.
- Deixa eu terminar. Este assunto está conectado no próximo.
- Hum - murmura Lucas girando a mão indicando a Ângela para prosseguir.
- Como eu estava falando, os nazistas fizeram algumas viagens arqueológicas e científicas para a Índia e África. Existem dúvidas a respeito disto, mas parece muito claro que eles estavam buscando informações sobre estas armas poderosas do passado objetivando reproduzi-las. Em fevereiro de 1942, numa conferência secreta, o físico alemão Werner Heisenberg...
- O mesmo do Princípio da Incerteza? - perguntou Lucas.
- Sim, ele mesmo. - respondeu Ângela fuzilando Lucas com um olhar raivoso pela nova interrupção.
- Ele - prosseguiu ela - citou a construção de um reator nuclear que objetivava controlar a fusão e converter urânio em plutônio. Então quando parecia que Hitler estava perto de construir uma bomba atômica, os alemães simplesmente pararam de tentar, misteriosamente. Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas, ou os cientistas ficaram com medo do que Hitler poderia fazer com aquilo ou então eles foram pesquisar algo mais interessante e é aí que entra o Glocke.
- Aleluia! Agora sim! - disse Lucas rindo e levantando as duas mãos espalmadas para o alto.
- Seu besta - retrucou Ângela balançando a cabeça e continuando - Existe um vale na Polônia onde se ergue uma estrutura de concreto que lembra Stonehenge. Esse vale foi tomado pela SS e transformado numa instalação industrial secreta de pesquisa e desenvolvimento. A estrutura de concreto, dizem alguns, servia como base para uma torre de resfriamento de uma mina de carvão, mas sinceramente, o alto comando alemão não iria despender tantos recursos  militares se aquele vale tivesse somente uma usina energética...
Um barulho interrompe a narração da história e assusta Lucas que direciona o feixe da lanterna para a direita, onde pode-se ver um rato morto que acabara de cair. Ele levanta o feixe da lanterna e consegue ver que acima do rato, no teto, existe um buraco com uma escada extremamente enferrujada. Bem acima é possível ver uma luz. Talvez aquilo fosse uma saída, mas agora ele quer terminar de ouvir a história de Ângela.
- Não foi nada - diz ele - prossiga com sua explicação.
- Então... - diz Ângela suspirando - Esse projeto, Glocke, foi o melhor projeto secreto do terceiro Reich. Esse negócio era tão secreto que ninguém está certo de que Hitler tinha conhecimento dele. Existe até um relato num livro de Henry Stevens de que eles mataram todos os 60 cientistas que estavam trabalhando no projeto e queimaram seus corpos num vala comum para evitar que a informação vazasse.
-Die Glocke, ou O Sino - prosseguiu ela - era um aparato em forma de sino. Alguns esboços que foram encontrados, retratam O Sino como tendo um revestimento cerâmico e metal, tendo cerca de 3 ou 4 metros de altura e 2 metros de diâmetro. Esse dispositivo continha dois cilindros que giravam em direções opostas, cheios de uma substância com aparência próxima do mercúrio, mas com uma cor violeta. Este metal líquido era chamado de "Xerum 525". Eles também usavam outros elementos, incluindo peróxido de berílio. Quando ativada, essa máquina gerava um forte campo eletromagnético e emitia muita radiação, o que supostamente acabou com a vida de alguns cientistas, matou plantas e animais nas redondezas no seu primeiro teste. Esta forte radiação e eletromagnetismo resultavam numa força antigravitacional, que era o princípio de propulsão do Sino.
- Sim, - interrompe Lucas - então esse negócio flutuava?
- Os relatos indicam que ele tinha capacidade para tal, mas nunca chegou a voar de fato, embora tenha acontecido algo muito estranho alguns anos depois do fim da Segunda Guerra.
- O que aconteceu? - pergunta Lucas curioso.
- Calma que eu chego lá. - mostrando a mão espalmada pedindo calma - Os relatos se dividem a respeito da real função deste tal Sino que estava sendo projetado pelos nazistas, mas há algo que indica que ele tinha a capacidade de se deslocar no tempo.
- Ah, não! - diz Lucas balançando o dedo indicador - Viajar no tempo é algo impossível, Ângela!
- Você não tem como saber! Você por acaso é físico? - pergunta a moça levantando uma sobrancelha.
- Não, eu não sou físico. Nem preciso ser para saber que o universo está em movimento constante. A Terra gira em torno de si mesma e ao redor do Sol, que por sua vez também gira ao redor do centro de nossa galáxia, num de seus braços. Nossa galáxia também se desloca no espaço, assim como todas as outras, num movimento remanescente do Big Bang.
- E daí? - pergunta Ângela.
- Como assim, "E daí"? - pergunta ele franzindo a testa. - É muito mais do que óbvio! Veja. Se você se desloca no tempo, você permanece no mesmo local do espaço, enquanto tudo a sua volta permanece em movimento. Note que quem se desloca no tempo é você, logo, enquanto para você a viagem é algo instantâneo, para o resto do universo você simplesmente desaparece e só reaparece num momento no futuro. A grande questão é: Onde você vai aparecer?
- No mesmo lugar, seu idiota! - diz ela fazendo cara de nojo.
- Exatamente, no mesmo lugar...
- Na sua sala! - interrompe a moça.
- Negativo! - rebate ele - No momento em que você desaparece, o planeta Terra segue sua viagem, enquanto que você permanece no mesmo ponto do espaço. Quando você reaparecer, a Terra já estará bem distante do lugar original e você vai se encontrar no vácuo do espaço, ou então dentro de uma estrela. Lembre-se. Todo o universo está em movimento, Ângela.
- Tá. Eu entendi sua teoria. Mas como você explica o que aconteceu em Kecksburg em 1965?
- O que aconteceu?
- Era a história que eu ia contar. Em 1965, uma bola de fogo muito grande foi vista por centenas de pessoas em pelo menos seis estados dos EUA. Na época a mídia em geral considerou que o evento tivesse sido causado por um meteoro. Entretanto, os habitantes da pequena vila Kecksburg alegaram ter visto algo caindo na floresta. Um garoto disse que viu um objeto pousar, sua mãe falou ter visto fumaça azul e alertou as autoridades. Outros habitantes da vila, incluindo voluntários do departamento de bombeiros relataram ter encontrado um objeto em formato de noz, do tamanho de um fusca e que em seu corpo haviam escrituras que lembravam hieróglifos egípcios. As testemunhas também relataram uma intensa movimentação militar no local e que o exército removeu o objeto do local com um caminhão.
- Sim, Mas qual a relação desse objeto com o tal Sino?
- No final da Segunda Guerra, o Sino simplesmente desapareceu. Houve rumores de que ele foi destruído, mas o relato do evento de Kecksburg levanta essa dúvida ainda mais porque o objeto tinha a aparência muito próxima ao Sino, já que uma noz tem o formato de sino invertido.

Um barulho forte é ouvido do lado de fora e interrompe a narrativa da moça. Eles percebem que tem alguém tentando arrombar a porta. Rapidamente, Lucas mostra a escada para Ângela e os dois sobem o mais rápido que podem. Ao chegar ao topo, assim que suspendem a pesada tampa de ferro e saem, eles percebem que estão cercados de homens armados, todos vestidos de preto. Mas sua roupa não era de um preto comum. A superfície da roupa tinha uma espécie de brilho incomum. Era um tipo de tecido que eles não tinham visto ainda. Um deles se aproxima e aponta para o papel que está na mão de Ângela. Ela para por um instante e olha para Lucas, que lhe devolve o olhar e levanta os ombros indicando que eles não tem escolha. Ângela estende a mão e o homem pega o papel de forma brusca. Os dois fecham os olhos e se abraçam esperando pelo pior mas tudo que ouvem é um silêncio quase ensurdecedor. Ângela abre os olhos e passa a sacudir Lucas sem dizer nada. Lucas abre os olhos e não consegue acreditar no que vê.

Os dois estão ajoelhados no meio do deserto, completamente sozinhos.

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Dos elementos citados no texto:




2 comentários:

  1. Um conto recheado de conhecimento e com um "final" epico. *--*

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    1. Valeu, Lucas! Obrigado pelo comentário!!!!
      Levei bastante tempo pensando em formas horríveis de terminar o texto, mas no final das contas, preferi escrever algo mais leve mesmo. Achei melhor poupar a vida de Lucas e Ângela... hehehehehe...

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