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quinta-feira, 6 de março de 2014

Inimigo: Eu [parte 3]



Daniel passa a noite acordado pensando nos dedos que encontrou no congelador. Como eles foram parar ali? Será que ele estaria enlouquecendo? Teria ele um lado sombrio e inconsciente? Ele sempre se sentiu horrorizado com as coisas que seu trabalho o faziam confrontar, não conseguia se imaginar praticando as coisas que investigava. Seus pensamentos são interrompidos de forma brusca pelo barulho estridente de sua campainha. Daniel mal se dá conta que já amanheceu e o Sol brilha forte através do vidro de sua janela. Ele levanta e vai verificar quem é pelo olho mágico da porta. É Rafael.

- Daniel!? - grita o amigo, mas nada é ouvido como resposta - Eu sei que você está aí, to vendo a porra da sua sombra pela fresta de baixo da porta.
- Merda! - diz Daniel bem baixo para si próprio. Ele abre a porta. 
- Porra, cara, tentando me enganar assim? - diz Rafael empurrando a porta e entrando - Porque você ainda tá de pijama? Vamos logo, assim vamos nos atrasar!
- O que você está fazendo aqui? - pergunta Daniel um pouco desconcertado.
- Vim verificar uma coisa aqui perto e decidi passar aqui para irmos juntos, oras, porque? Tem algum problema?
- O que? Não, não... Problema nenhum - responde ele com a voz um pouco trêmula.
- Vai se arrumar logo que eu te espero. - diz Rafael pegando a garrafa de whisky na mesa de centro. Daniel vira-se para ir ao quarto mas percebe que o amigo está se dirigindo para a geladeira. 
- Vou roubar um cubinho de gelo pra tomar um gole desse whisky. - diz Rafael já abrindo a porta. - Que porra é essa? - grita ele. Daniel fecha os olhos pois pode imaginar o que acaba de acontecer.
- Seu congelador tá tomado de gelo, cara. Não tem condições de pegar nada aqui! - Daniel olha para o congelador e percebe que ele está tomado de gelo, não sendo possível ver nada em seu interior.
- Deixe pra lá. Tá muito cedo pra tomar bebida mesmo. - diz Rafael fechando a geladeira e colocando a garrafa dentro do armário. Daniel respira aliviado. Logo ele está pronto e os dois saem para o trabalho.

Os dois vão para a sala de Daniel primeiro para pegar um notebook, depois vão para a sala de reunião.
- Então - diz Rafael pegando o pincel atômico e dirigindo-se para o quadro branco - Temos dois casos aqui com uma semelhança muito grande no modus operandi. No primeiro caso, a vítima... nós já temos o nome dela? - pergunta ele para Daniel apontando-lhe o pincel.
- Sim, Anna Tate. Ela era recepcionista de um salão de beleza. - responde Daniel olhando no computador.
- Certo. - diz Rafael, escrevendo o nome dela no quadro. - A outra eu me lembro bem, Camila Perkins. - diz ele também escrevendo o nome dela no quadro ao lado do outro nome. Rafael faz uma pequena tabela no quadro para iniciar o comparativo entre os dois casos. - No primeiro caso, a cena do crime estava impecável. você não encontrou nada relevante lá, não é? - pergunta ele, sem receber resposta. Rafael vira-se e vê Daniel cochilando em frente ao computador. - Porra, Daniel! Presta atenção! - Daniel toma um susto.
- Desculpa, cara, eu dormi mal ontem de noite. Tô extremamente cansado. -  diz ele passando a mão no rosto. - Preciso lavar o rosto e tomar um café.
- Tudo bem, vá. Mas deixe o computador aí, vou continuar a análise sozinho por enquanto.
- Ok. - diz Daniel já se levantando. Ele sai da sala e entra no banheiro masculino. Debruça-se sobre a pia, abre a torneira e começa a jogar água no rosto. Ele olha para seu reflexo e começa a se lembrar dos dedos que encontrou mais cedo em seu congelador. Aquilo não fazia o menor sentido. Será que ele estava enlouquecendo?

Daniel resolve sair do prédio e dar uma volta. Entra no carro e segue aparentemente sem rumo, absorto em seus pensamentos. Num dado momento ele vê uma placa de um consultório psicológico e pensa de talvez um profissional possa ajudá-lo a entender o que está acontecendo, mas ele não pode falar abertamente as coisas que estão acontecendo. Mesmo assim, resolve tentar. Ele estaciona o carro em frente e entra na recepção.

- Bom dia, Senhor! - diz uma moça bonita atrás do balcão. - Em que posso ajudá-lo?
- Preciso ver o psicólogo. - diz Daniel apoiando os dois braços no balcão.
- O Senhor marcou horário? - pergunta a atendente olhando para ele com uma sobrancelha suspensa.
- Não... desculpe, não marquei. É uma emergência.
- Olha, Senhor, me desculpe, mas a doutora só atende com hora marcada. Nós temos uma agenda! - responde ela apontando para a tela do computador ao seu lado.
- Eu sei, Jéssica - diz Daniel olhando para o nome dela escrito num broche dourado preso à blusa. - Olha. Me desculpa pela insistência, mas eu realmente estou precisando muito falar com o psicólogo. Eu pago o valor que for necessário. - diz ele já tirando a carteira do bolso.
- Só um minuto. Vou ver o que faço pelo Senhor. - diz ela suspirando voltando-se para o computador. - Parece que está com sorte. Temos uma desistência aqui. Posso te encaixar.
- Muito obrigado! - diz Daniel já andando em direção à porta.
- Calma aí! - diz a atendente estendendo-lhe a mão. - O Senhor não pode entrar agora. Tem um paciente em consulta. Aguarde sua vez, por favor.
Daniel suspira impaciente, mas vai até o sofá da recepção e se senta para aguardar.

Finalmente chega sua vez. Ele se levanta imediatamente e entra na sala.

- Bom dia! - diz a psicóloga, uma senhora de estatura mediana com cabelos grisalhos. Ela aponta para a cadeira à frente de sua mesa. Daniel entende que deve se sentar.
- Bom dia, doutora. - diz ele com um sorriso no canto da boca.
- Algo engraçado Senhor... - pergunta ela franzindo os olhos.
- Daniel... Meu nome é Daniel. - responde ele meio desconcertado - Não, não. Nada de engraçado. Desculpe. É que eu fiquei falando lá fora que queria ver o psicólogo e a Senhora é mulher.
- Sim. Eu já tinha notado que sou uma mulher. Obrigada. Algum problema com isso, Senhor Daniel?
- Não... Problema algum. Eu que lhe peço desculpas. Que bobagem a minha.
- Tudo bem. Vamos conversar? - diz ela apontando para o divã. Daniel se deita e a médica começa.
- Vamos lá. Me diga o que está acontecendo. - pergunta a médica sentando-se ao lado do divã com um bloco na mão. Daniel consegue ouvir o click da caneta que ela acabou de apertar.
- Então, doutora. - começa ele apertando as mãos uma contra a outra - Não tenho conseguido dormir direito e quando durmo tenho pesadelos horríveis e tenho visões desconcertantes também sempre com um homem vestido de preto. Diariamente tenho a sensação de que estou sendo vigiado e isso está começando a me afetar no trabalho.
- E o que o senhor faz? - pergunta a médica ajeitando o óculos.
- Sou perito criminal.
- Entendo, - diz ela anotando algo na prancheta que segura - me dê só um instante, por favor. - pede ela enquanto se levanta e sai da sala. Daniel observa a mola fechar a porta do consultório com um click suave.

Muito tempo se passa e a médica ainda não havia retornado. Daniel acha estranho e resolve verificar o que aconteceu. Ele se levanta e se dirige até a recepção. Ao abrir a porta, ele encontra a médica morta no chão próximo da porta e a atendente estrangulada, deitada sobre a mesa. Ele se desespera e tenta fugir, mas assim que levanta a cabeça,  ele se depara com o homem de sobretudo preto parado em sua frente, o mesmo homem que o tem visitado nos sonhos. O homem estende a mão em sua frente e aponta para trás de Daniel, sobre seu ombro. Ele olha para trás e vê a si mesmo de pé, olhando para o chão com uma arma na mão. Subitamente ele acorda em seu carro, em frente ao consultório. Ele resolve sair do carro e entrar no consultório. 

- Bom dia, Senhor! - diz uma moça bonita atrás do balcão. - Em que posso ajudá-lo?
- Preciso ver o psicólogo. - diz Daniel apoiando os dois braços no balcão.
- O Senhor marcou horário? - pergunta a atendente olhando para ele com uma sobrancelha suspensa.
- Não... desculpe, não marquei. É uma emergência.
- Olha, Senhor, me desculpe, mas a doutora só atende com hora marcada. Nós temos uma agenda! - responde ela apontando para a tela do computador ao seu lado.
- Eu sei, Jéssica - diz Daniel olhando para o nome dela escrito num broche dourado preso à blusa. Neste momento Daniel sente um frio na espinha, pois percebe que tudo que acabou de acontecer, foi exatamente como o sonho que ele acabara de ter. Ele não diz mais nada. Simplesmente vira-se de costas e sai do prédio.

Rafael, em sua análise, desconfia que de alguma forma Hecktor foi incriminado. Principalmente devido ao fato de que a cena do crime não estava da mesma forma que no outro crime. Além disso, o fato de não encontrarem a arma do crime, nem o dedo decepado, fora o fato de que não há evidências de que Hecktor tenha habilidade para decepar um dedo humano de forma tão habilidosa. Mas como ele poderia provar que um erro foi cometido? Esse pensamento consome Rafael durante muito tempo.

Rafael decide verificar os arquivos da câmera de segurança do complexo de celas. Nas imagens do dia do suicídio ele vê o segurança saindo e logo depois alguém entrando. Na primeira câmera a pessoa aparece de costas, então ele espera que a pessoa entre no enquadramento da segunda câmera, mais adiante no corredor. O que ele vê, entretanto, o deixa confuso. Depois que a pessoa sai do quadro da primeira câmera, no quadro da câmera seguinte aparece um homem vestindo um sobretudo preto. Neste momento a imagem da câmera começa a tremer e um borrão aparece no lugar do rosto. O homem para diante da cela de Hecktor e ali fica sem esboçar reação alguma. Momentos depois ele se vira e sai, mas desta vez quando ele sai do quadro e retorna para a primeira câmera, Rafael consegue ver claramente. 

Daniel esteve lá.

(Continua...)

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