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quarta-feira, 12 de março de 2014

Inimigo: Eu [Parte 4]



O homem de sobretudo preto fugia pelo deserto e Daniel ia atrás. Diferente do deserto que ele leu num certo livro, aquele era desprovido de tudo: era apenas a brancura do nada e a linha do horizonte. Ele gritava para que aquele homem parasse, mas ele corria sem sequer olhar para trás. Subitamente o homem dá um salto, abre o braços e desaparece no chão. Daniel corre para o local para entender o que aconteceu e quase cai no precipício que surgiu a sua frente. Ele se ajoelha e apoia as mãos no chão.

Ele respira fundo, olha ao seu redor e finalmente percebe que está cercado pela brancura daquele lugar. Ele imagina que só pode estar sonhando, mas a sensação de estar ali é extremamente real. O Sol brilha forte no céu e ele pode sentir o seu calor na pele. Não há sequer uma nuvem. O chão é formado por uma areia que ele nunca viu antes, de uma brancura incrível e extremamente fina. Não está ventando. Ele se levanta e volta a olhar para frente. Onde antes não havia nada, agora há uma estrada. Uma estrada que se estende até onde a visão alcança. Ele está de pé, no meio desta estrada.

Ele começa a caminhar, mas não perece ter a sensação de se mover, já que a paisagem não muda ao seu redor. Ele sente uma sede absurda e não há lugar algum onde ele possa arranjar um pouco de água para beber. Em certo momento ele consegue ver algo na estrada. Um objeto um pouco brilhante. O Sol ofusca-lhe a visão e dificulta-lhe a ver, ao que ele deve se aproximar mais para enxergar. Ao aproximar-se ele não consegue acreditar no que vê. No meio da estrada está uma bandeja prateada com um lenço branco, muito limpo. No meio da bandeja há um copo. Um copo cheio de água gelada. Ele sabe que está gelada porque o copo está suado pelo lado de fora e dentro dele ele pode ver dois cubos de gelo ainda inteiros.

Daniel contempla aquele copo gelado na sua frente durante bastante tempo. Tempo bastante para os dois cubos de gelo derreterem. Ele não consegue acreditar que aquele copo estava ali. Quem colocou aquele copo ali? Sua sede, entretanto era tanta que ele não aguenta, se abaixa para pegar o copo e bebe. A água gelada toca sua língua mas não desce para sua garganta. Ao passar por sua língua ela simplesmente desaparece. Tomado de raiva, ele atira o copo ao chão, mas ele não chega a quebrar, ele some, junto com a bandeja. Daniel se joga ao chão de braços abertos, fecha os olhos e começa a chorar de desespero.

Uma leve brisa começa a tocar seu rosto. Logo depois ele sente algo frio tocar sua mão direita, ele abre os olhos e vê que agora ele está deitado na beira de uma praia. Uma onda se quebrou  e avançou pela areia até alcançar sua mão. Ele se levanta. O Sol já não está mais tão alto no céu e a temperatura está bem mais amena. Ele começa a caminhar pela beira da praia. Ele ainda tem bastante sede e sente fome também. A praia tem uma faixa de areia bastante longa, que se estende até o horizonte, e nada mais pode ser visto além da água e da areia.

O Sol está se pondo quando ele consegue ver ao longe a silhueta de uma porta. Ele parece não acreditar no que vê e corre para se aproximar daquela visão. De pé na areia, sem nenhuma parede a sustentar-lhe está uma porta de madeira branca. Apenas o portal e a porta fincados firmemente na areia. Ele dá a volta e vai para o outro lado, mas quando ele faz isso a porta some. Esta misteriosa porta só pode ser vista de apenas um lado. Ele volta para o lado visível da porta.

Daniel ri consigo mesmo daquela situação ridícula e fica imaginando porque não consegue acordar. É claro que ele está sonhando. Uma porta no meio da areia!? O que falta aparecer agora, um pistoleiro e algumas lagostas gigantes? - Porra! Eu já li esse livro! Me deixe em paz! - grita ele para o céu, sem obter nenhuma resposta. Ele senta na areia e fica contemplando a porta durante bastante tempo, até anoitecer. -Isso é ridículo! - diz ele para si próprio. Levanta e caminha decidido. Ele gira a maçaneta e abre a porta.

***
Rafael fica estarrecido com o que vê e não consegue entender qual a relação de seu amigo com o acontecimento  bizarro no complexo de celas. Entretanto, as imagens são indiscutíveis e provam que Daniel foi a última pessoa que esteve próximo de Hecktor antes do incidente. Ele resolve fazer uma cópia das imagens em seu celular e as apaga do servidor. Quer apurar os fatos ele mesmo. Ele sai da sala e segue para o arquivos de evidências.

- Boa noite, Jeanne! - diz ele assim que entra.
- Boa noite Sr.Rafael - responde a moça sentada à mesa na entrada do arquivo.
- Gostaria de dar uma olhada em um arquivo.
- De qual caso? - pergunta ela olhando para ele por cima da lente do óculos.
- Do caso de Matteus Hecktor, 2005. Ele foi indiciado por estupro. - diz ele olhando para as anotações no celular.
- Interessante, seu amigo veio aqui dias atrás procurando pela mesma coisa. - diz ela apontando-lhe com a caneta.
- Que amigo? - pergunta ele levantando a sobrancelha.
- Aquele perito, Daniel. - diz ela enquanto olha a localização física do arquivo numa planilha em seu computador. Rafael não diz mais nada. - Aqui está! - diz ela - Corredor 9, estante 5. A caixa está lá.

Rafael entra na sala e vai até o local indicado. Após um pouco de procura ele consegue localizar a caixa. Ele a pega e leva até uma mesa metálica presente na sala. Ele afasta a cadeira, senta, direciona a luminária para iluminar a caixa e a abre. Confere tudo o que tem dentro e vê que aparentemente está tudo em ordem, exceto por um detalhe. Um dos saquinhos plásticos de evidências tem uma etiqueta onde está escrito "Amostra de fios de cabelo", porém ele está vazio.

Rafael agora vê que, realmente, a prisão de Hecktor foi um engano, mas ele não consegue entender o motivo. Ele coloca a caixa no lugar, sai da sala, agradece Jeanne e se dirige à saída do edifício para pegar seu carro. Ele pega o telefone e liga para Daniel, mas seu número cai na caixa. Ele então resolve dirigir até a casa do amigo para tentar conversar com ele e entender o que está acontecendo.

***
Do outro lado da porta, Daniel vê seu apartamento. Já é de noite e as luzes estão todas apagadas, mesmo assim ele consegue ver por causa da luz da rua que entra pela janela. Ele atravessa a porta, que se fecha atrás de si e desaparece. O silêncio total impera e ele resolve acender a luz. Ele vê que a garrafa de whisky não está sobre a mesinha de centro da sala. Ele se lembra que Rafael a colocou no armário da cozinha. Ele vai até lá para conferir e se sente aliviado quando encontra a garrafa lá. Daniel dá uma volta pelo apartamento e percebe que as coisas estão em seu devido lugar. Ele volta para a porta da frente e abre. A visão do corredor do prédio o deixa mais tranquilo. Ele fecha a porta e volta para seu apartamento.

Uma filete bem fino de luz entra pela janela de seu quarto. Da sala Daniel consegue ver este filete bem fino iluminar a parede do quarto. Ele fica desconfiado, já que ainda é de noite e vai lá para verificar o que é, andando devagar e com cuidado ele vai até a janela. Primeiramente ele tenta olhar pela fresta da cortina, mas a luz que entra é muito forte e lhe ofusca completamente, ele resolve então abrir um pouco da cortina. Ele pode ver que lá fora, ao invés da rua, está um grande deserto branco. O Sol forte brilha lá fora. Subitamente a janela desaba em sua frente, assim como todas as paredes ao seu redor com um estrondo forte. Ele se assusta com aquilo e se encolhe, mas logo o barulho cessa e ele está novamente no deserto branco, agora, porém, ele vê ao longe uma figura de preto correr em sua direção. Ele leva a mão à cintura e segura firme em sua arma.

O homem de sobretudo preto fugia pelo deserto e Daniel, agora, estava à sua frente com a arma engatilhada. Por um instante ele exita, mas logo desfere-lhe 3 tiros no rosto inexistente. O homem de sobretudo permanece ali em sua frente, imóvel.

Daniel começa a acordar. Sua consciência voltando aos poucos. Sua visão ainda esta embaçada e sua audição não esta muito melhor. Sua cabeça dói e ele sente uma chuva fina lhe cair ao rosto. Duas luzes brilham próximas de si, do lado direito. Quando sua visão retorna, ele percebe que já anoiteceu e que está de pé numa rua deserta mal iluminada, com o braço estendido, segurando uma arma. A arma ainda esta fumegando. Diante de si jaz, inerte, um corpo.

Um corpo deitado sobre uma poça de sangue, com um furo na testa.

O corpo de Rafael.

[Continua...]

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Eu, com minha mania de torcer pelos personagens principais, acreditava que o assassino seria um gêmeo univitelino de Daniel. Mas agora está complicado defendê-lo. Acho que ainda crio uma teoria para amenizar as coisas para ele. Estou aguardando a continuação.

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    1. Olá, Brenda!
      Realmente as coisas estão se complicando pro lado de Daniel e ele se sente cada dia mais confuso com isso.
      Peço desculpas por demorar tanto de escrever, acredito entretanto que a expectativa dê um sabor diferente tanto para mim que escrevo, quanto para você que lê.
      Obrigado por acompanhar a história e obrigado por comentar.
      O feedback do leitor é tudo que espero.

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